O Chocalheiro de Bemposta


O Chocalheiro de Bemposta

    Tradições mantém-se inalteráveis no Planalto Mirandês
O chocalheiro aparece no dia 26 de Dezembro e depois no dia de Ano Novo. Carregada de simbolismo, aquela figura mitológica é encomendada desde tempos ancestrais. «Pessoas que se vêem aflitas fazem a promessa ao Deus Menino de fazer de chocalheiro, nesse ano, pelos mais diversos motivos.

    O que mais manda é que faz de chocalheiro», dizem as pessoas com orgulho.
    As «mandas» (acto de leiloar o fato do chocalheiro) fazem-se no dia anterior e em local secretamente combinado. O quantitativo das promessas atinge, por vezes, as dezenas de contos.
    O chocalheiro aparece vestido de linho grosso e tem, na cabeça, uma máscara de madeira, com chifres, na qual está esculpida uma serpente. Do queixo sai-lhe uma barbicha de bode e, na parte da nuca, tem pendurada uma bexiga de porco que esvoaça ao vento. Numa das mãos leva uma tenaz de ferreiro, com a qual faz a recolha de peças de fumeiro, e, à cinta, uma serpente de grande porte, feita em tecido.
    De acordo com o historiador António Mourinho, "estes elementos estão carregados de simbologia mitológica e ritualismo gentílico".
    Manda a tradição que este misto de profano e sagrado, até porque o chocalheiro faz a recolha de fundos para a igreja, só entre no templo quando despir a farda, porque o mesmo, na opinião de muitos, representa o diabo.
    Estas figuras aparecem, também, em várias localidades do Nordeste Transmontano, com principal incidência na zona da Lombada (Bragança) e na Terra de Miranda, casos do Velho de Vale de Porco, o Farandulo de Tó (Mogadouro) a Velha de Vila Chã, o Carocho e a Sécia de Constantim (Miranda do Douro) são ainda uma realidade bem patente da cultura profana das nossas gentes.
    Estes rituais do solstício de Inverno têm um profundo significado mitológico. São ritos de iniciação cuja origem se perde no tempo.

Francisco Pinto